A alergia alimentar é definida como uma doença consequente a uma resposta imunológica, que ocorre após a ingestão e/ou contato com determinado(s) alimento(s). As reações alimentares podem ser divididas em:
- imunológicas, quando nosso organismo produz uma resposta em defesa a algum alérgeno, neste caso um alimento.
- não imunológicas, que dependem principalmente da substância ingerida (p. ex: toxinas bacterianas presentes em alimentos contaminados) ou das propriedades farmacológicas de determinadas substâncias presentes em alimentos (p. ex: cafeína no café, tiramina em queijos maturados).
As reações adversas não imunológicas podem ser desencadeadas também pela fermentação e efeito osmótico de carboidratos ingeridos e não absorvidos. O exemplo clássico é a intolerância por má absorção de lactose. Mais recentemente vem sendo valorizados também outros carboidratos não completamente absorvidos conhecidos pela sigla em inglês “FODMAPs”: F = fermentável, O = oligossacarídeos (frutanos, galactooligosacarídeos), D = dissacarídeos (lactose, sacarose), M = monossacarídeos (frutose), e P = polióis (sorbitol).
Novas nomenclaturas propostas pela OMA:
A Organização Mundial de Alergia (World Allergy Organization) propôs, em 2003, uma nova nomenclatura para as definições de alergia. A hipersensibilidade deve ser usada para descrever sintomas ou sinais reproduzíveis causados pela exposição a um estímulo definido em uma dose tolerada por pessoas normais. Por outro lado, a intolerância sugere uma resposta fisiológica anormal a um agente que não é imunomediada, ou seja, que não gera uma resposta imunológica.
O termo atopia foi sugerido para designar uma característica que torna um indivíduo suscetível ao desenvolvimento de várias alergias, enquanto que alergia é uma reação de hipersensibilidade desencadeada por mecanismos imunológicos específicos.
Alergia alimentar refere-se a um grupo de distúrbios com resposta imunológica anormal ou exagerada a determinadas proteínas alimentares que podem ser mediadas por IgE ou não. Quando a participação de outros mecanismos é confirmada, recomenda-se o termo hipersensibilidade não-alérgica.
O cenário atual das doenças alérgicas
A prevalência de doenças alérgicas em crianças e adultos jovens aumentou drasticamente nas últimas décadas, e as alergias alimentares (AA) são parte desse aumento. As alergias alimentares tornaram-se um grande problema de saúde no mundo todo nas últimas duas décadas e estão associadas a um impacto negativo significativo na qualidade de vida.
Os riscos ao bem-estar aumentam à medida que os alimentos consumidos em uma população são cada vez mais processados e complexos, com rótulos inadequados.
Quem desenvolve mais alergia alimentar?
As alergias alimentares são bem mais comuns no grupo pediátrico do que em adultos e possuem um impacto médico, financeiro e social considerável em crianças menores e suas famílias. Estudos sugerem que entre 5 e 25% dos adultos acreditam que eles ou seus filhos sejam atingidos.
Os dados sobre a prevalência de alergia alimentar, ao redor do mundo, são conflitantes e depende da idade e características da população avaliada (cultura, hábitos alimentares, clima), mecanismo imunológico envolvido, método de diagnóstico (autorreferido, questionário escrito, testes cutâneos, determinação de IgE sérica específica ou testes de provocação oral), tipo de alimento, regiões geográficas, entre outros.
Por que desenvolvemos alergias alimentares?
Durante a vida, são ingeridas grandes quantidades de alimentos com alta carga proteica e, apesar disto, apenas alguns indivíduos desenvolvem alergia alimentar, demonstrando que existem mecanismos de defesa competentes no trato gastrintestinal (TGI), que contribuem para o desenvolvimento de tolerância oral.
A permeabilidade da barreira intestinal é variável e pode ser afetada ou mesmo promover o desenvolvimento de várias doenças no lactente e no adulto.
O TGI é o único órgão onde existe uma convivência harmônica entre grande número de microrganismos e o sistema imunológico além de ter a capacidade de receber diariamente grande quantidade de antígenos alimentares sem que haja um processo inflamatório que cause danos.
Essa função do TGI de promover a digestão com a incorporação de nutrientes, água, eletrólitos e ao mesmo tempo a manutenção de um equilíbrio imunológico só é conseguida pela presença de mecanismos de defesa bem elaborados.
Quais são os sintomas da alergia alimentar?
As manifestações clínicas da reação alérgica podem variar de moderadas a graves, podendo mesmo, em alguns casos, ser fatais. Os sintomas surgem rapidamente, entre alguns minutos até duas horas após a ingestão do alergênico, e podem incluir:
- manifestações cutâneas (pele e mucosas)
- respiratórias
- gastrointestinais
- cardiovasculares
Os sintomas podem surgir de forma isolada ou combinada: Manifestações muco-cutâneas (Erupções cutâneas, Eczema, Urticária, Edema da glote e da língua, Sensação de formigueiro na boca) Manifestações gastrointestinais (Vômito Dores abdominais Diarreia), Manifestações respiratórias (Dificuldades respiratórias).
Na avaliação diagnóstica das reações adversas a alimentos, a história clínica tem papel fundamental. O seu valor depende muito da capacidade recordatória dos sintomas pelos pacientes, e da habilidade e sensibilidade do médico em diferenciar as manifestações causadas por hipersensibilidade alimentar daquelas relacionadas a outras condições.
Um diagnóstico preciso é essencial para o manejo correto da alergia alimentar. Como apresentado acima, o diagnóstico da alergia alimentar baseado na história obtida dos pais é impreciso na maioria dos casos. Uma história precisa é importante para determinar o timing da ingestão e o aparecimento dos sintomas, o tipo de sintomas, os alérgenos alimentares que possam estar causando o problema, e o risco de atopia.
Como é feito o diagnóstico?
Existem alguns exames que podem ajudar no diagnóstico, como o hemograma, embora não seja exame diagnóstico para alergia alimentar, auxilia na detecção de complicações a ela associadas, como a anemia. As reservas corporais de ferro (ferritina sérica) devem ser avaliadas.
Teoricamente, na alergia alimentar pode ocorrer deficiência de ferro em função de perdas fecais ou de má absorção secundária à lesão do intestino delgado, ou da inflamação sistêmica. Nos casos de doenças gastrintestinais, a eosinofilia é encontrada em parcela expressiva dos casos, e pode auxiliar no diagnóstico.
A determinação da IgE específica auxilia apenas na identificação das alergias alimentares mediadas por IgE e nas reações mistas, e este é um dado fundamental. A pesquisa de IgE específica ao alimento suspeito pode ser realizada tanto in vivo, por meio dos testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (TC), como in vitro, pela dosagem da IgE específica no sangue. A detecção de IgE específica tem sido considerada como indicativo de sensibilização ao alimento.
Exame coprológico
O exame coprológico traz informações sobre respostas inflamatórias, importantes para o diagnóstico de alergias e para diferenciar de outras forças com características clínicas semelhantes.
Tratamento
Três modalidades de tratamento são geralmente empregadas no manejo de alergias alimentares: eliminar e evitar alérgenos específicos, tratamentos medicamentosos e medidas preventivas.
Portanto, com o aumento da industrialização, o número de pessoas alérgicas tem aumentado no âmbito mundial. Caso tenha dúvidas, procure seu clínico de confiança ou entre em contato conosco.
* Este texto foi redigido conforme evidências disponíveis até 28/06/2022.
Referências utilizadas:
https://www.scielo.br/j/jped/a/FBjqzY63JqkBGkPrtYvXL6x/abstract/?lang=pt
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http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=865
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https://www.scielo.br/j/rpp/a/ppf8vkR88pFxDdPrRGtk7XK/?format=pdf&lang=pt